Tão importante quanto reconhecer os
ritmos é saber identificar os instrumentos utilizados na composição
de uma música oriental. Compreender a expressão de cada um deles,
perceber o que cada um nos faz sentir, o que desperta em nós,
observar quais movimentos durante a dança interpretarão a música
produzida... Deixar que sua dança flua de acordo
com a música, que sua expressão facial e corporal deixem
transparecer o sentimento produzido pelo som! Que música, dança e
bailarina sejam um!Nesse
caminho devemos buscar o equilíbrio entre o estudo e a expressão
subjetiva. Já
postei aqui no blog textos e vídeos falando sobre alguns dos
diversos instrumentos utilizados na música árabe. Postarei agora
vídeos de algumas orquestras/bandas, para que seja possível tentar
identificar na música, o som de cada instrumento. Como a estrutura
da música oriental é muito distinta da ocidental, precisamos
treinar nossos ouvidos. Essa
identificação dos instrumentos é importante, principalmente, na
interpretação de taksins. Saber distinguir instrumentos de sopro,
corda ou o acordeon e saber quais tipos de movimentos podem ser
adequados (nos outros posts algumas dicas com relação aos movimentos são dadas).
Então, bons estudos!
Salguta - é o
nome do grito que as bailarinas fazem no meio de uma dança. Originalmente é um
grito de guerra. As mulheres recebiam ou despediam-se dos homens em ocasião de
guerra. Também é comum escutar durante a zaffa (casamentos) e outras
comemorações.
Maq´am (Plural: macamats) - É uma
idéia musical , podem existir cerca de 150 macamats. É comum tanto nas
improvisações como nas composições , que se comece por um macam, se passe a
outro e termine voltando ao macam inicial.
Mahual - É um
improviso do cantor “conversando” com a orquestra. O cantor pode mudar de maçam
independente da orquestra acompanhá-lo ou não.
Há ainda outros instrumentos tocados na música árabe, mas que
não são considerados dentro de nenhuma categoria apresentada anteriormente.
Entre eles estão: acordeon, órgão, bateria, guitarra.
Acordeon - O
acordeon é muito famoso por ser utilizado nos tangos. Mas engana-se quem pensa
que é exclusivamente da cultura argentina. Diz a lenda que um imperador chinês
do século 3.000 a. C pediu a um estudante que criasse uma forma de imitar o som
de um pássaro. O jovem então inventou o Cheng, instrumento com 13 a 24 palhetas
de bambu que reverberavam em uma cabaça. Outros instrumentos que usavam o mesmo
princípio foram elaborados no Egito e na Grécia.
O acordeon foi elaborado pelo austríaco Cyrillus Damian, em
meados de 1829, mas somente 20 anos depois recebeu os teclados que conhecemos.
Depois de ser difundido pela Europa por volta de 1770, principalmente nas
festas nas aldeias, chegou ao Brasil no século XIX, trazido pelos imigrantes
italianos. Possui as teclas, do lado direito, e botões, que podem variar entre
12 (infantis) e 140, do lado esquerdo. Porém, no chamado acordeon cromático há
botões dos dois lados. No meio fica o fole, responsável por controlar a duração
e outros efeitos das notas.
Na música árabe, foi introduzido na década de 40, quando
recebeu uma nova afinação e passou a integrar orquestras. Você já deve ter
percebido que é raro encontrar um solo de acordeon, com exceção das músicas
libanesas. É o caso do libanês Alex Menakian, um dos melhores instrumentistas
de acordeon, que fez inclusive interpretações de taksins. Há registros de
criação e composições para o instrumento na Turquia, Israel e Armênia. Nos anos
80, este belo instrumento começou a ser substituído por efeitos Midi de órgãos
imitando sua sonoridade.
Acordeon, sanfona, gaita de fole, realejo e concertina. Não
consegue entender como todos podem ter sons tão diferentes? Bom, o princípio é
o mesmo, o que muda é a afinação, já que na música árabe o acordeon é usado na
escala maqam, diferente da escala usada no ocidente por ter os quartos (1/4) de
tom. Acompanhe no vídeo a execução de um solo de acordeon. Veja como a
bailarina trabalha ora o ritmo, ora a melodia do instrumento.
Seu som é sensual e os movimentos que seguem acabam contendo
essa característica. Movimentos ondulatórios são obrigatórios na hora de ler
este instrumento. Oitos e redondos e se prepare para executá-los com muita
agilidade, devido às mudanças rápidas de notas. Treine muitas ligações de
passos pois o som rico do acordeom não permite pausas nem quebras de movimento.
Braços e mãos também são bem vindos apesar do som ser mais pesado e acabar
pedindo mais trabalho de tronco e bacia. Andadas e caminhadas simples são muito
bem vindas. Em alguns momentos, quando a nota fica muito rápida, cabe até um
tremido soltinho e um pouco mais lento. Nunca aquele tremidão percussivo. É
muito comum o teclado imitar o som do acordeom, mas a leitura indicada continua
a mesma. Você perceberá que o som do teclado é bem mais estridente e não tem a
emoção do acordeom.
Assim como o acordeon, recentemente o sax vem sendo amplamente utilizado na música árabe, muitas vezes
junto com orquestras. Um músico que faz utilização deste instrumento é Samir
Srour.
Sintetizador - é muito comum, na
atualidade, encontrar teclados sintetizadores dentro da música árabe. Estes
teclados produzidos por grandes marcas, especialmente para o mundo árabe.
Possuem “samplers” (gravações de sons reais) de instrumentos originais árabes,
assim como ritmos tradicionais já configurados. Pesquisa feita nos seguintes sites:
Derbaque - O
instrumento mais usado e mais conhecido da música árabe é o derbaque, com seus
vários timbres e dinamismo, podendo ser usado desde só para marcar o ritmo
básico ou até para fazer solos muito elaborados. Tem liberdade para criar e
improvisar “frases e floreios”.
Oferece três variedades de sons: grave, médio e agudo, motivo pelo qual é
considerada a voz principal em uma orquestra árabe. Seu formato de ampulheta ou
taça permite que seja facilmente acomodado no colo do derbaquista, e é assim
que ele é tocado. O corpo oco pode ser feito de níquel, cerâmica ou alumínio
comprimido. O topo pode ser feito de pele (de peixe ou cabra) ou plástico
(atualmente). Quando feito de pele, pode ser colado com pregos ou cola, e neste
caso o instrumento deve ser aquecido para afinar. O modelo mais usado por profissionais
é o de alumínio com topo de plástico, afinado com uma chave. Tem cerca de 45cm
de altura e 22cm de diâmetro.
Do outro lado do Mediterrâneo, conhecidos compositores europeus usaram o
derbaque em seus trabalhos de orquestra, como por exemplo, na Ópera Trojan de
Berlioz (1869) ou no Prometheus de Carl Orff (1968). Jimmi Page e Robert Plant
convidaram o percussionista egípcio Hossam Ramzy para participar da gravação e
turnê do "No Quarter", unledded, tocando o derbaque.
Recebe inúmeras denominações no mundo árabe. Derbakke ou
Derback ( Líbano, Síria etc..), Tabla ( Egito ) Darbuka ( Turquia ), Tumberleke
( Grécia ) etc...
Doholla(Tabla Grave,
Bass Tabla) - Trata-se de uma Tabla semelhante a Derbakke, porém com
dimensões maiores e sonoridade mais grave. Serve como base rítmica para solos
de percussão. O doholla segura o ritmo enquanto o derbake "brinca"
floreando em cima da ritmo.
Esse instrumento, na forma tradicional, é feito em
argila queimada revestido de pele de peixe ou carneiro. Já
possui sua moderna versão em corpo de alumínio e revestimento em nylon.
Curiosamente, não existe um tamanho padrão para a confecção da Doholla; o certo
é que tal instrumento deve ter uma circunferência bocal superior ( dois
tempos acima ) que a de um Derbakke. Existem, porém, instrumentos com
circunferência até três tempos acima que a de um derbakke.
A Doholla é comumente usada como percussão base tanto
na música egípcia quanto na libanesa. Apesar de rara até mesmo nos países
árabes, a Doholla de corpo de cerâmica em alta qualidade e pele de cabra é a
mais indicada para gravações, pois possui sonoridade nitidamente superior. Já
em shows ao vivo, sua versão moderna torna-se a preferida, justamente por
manter-se sempre afinada independentemente das condições climáticas.
Em opinião particular, Vitor Abud Hiar considera a Doholla
em cerâmica e pele de cabra ideal tanto para gravações quanto para shows. Não é
possível obtermos, para Vitor Abud Hiar, um perfeito som aveludado nas Dohollas
em pele de poliéster. A pureza sonora na marcação rítmica e o "Dum"
bastante profundo mas sem exageros que a pele natural proporciona, torna a
Doholla tradicional um instrumento cem por cento indispensável.
No Brasil a primeira Doholla fora confeccionada por Fuad
Haidamus em meados de 1984, em argila e pele de cabra.
Daff (Pandeiro
Tenor, Riqq, Tamborim Árabe)- O Daff, nome que recebe no Líbano, é um pequeno
pandeiro feito em anel de madeira e revestido em pele de peixe ou carneiro.
Possui cinco címbalos duplos, totalizando um conjunto de dez címbalos que
produzem grande sonoridade. Possui também sua versão moderna em aro de metal e
pele de nylon. No Egito, recebe a denominação "Riq". Partindo da
análise de sua sonoridade, podemos chamá-lo de "pandeiro tenor" e a
Mazhar, que veremos mais adiante, de "pandeiro grave".
Há 3 formas de se tocar esse instrumento:
A- Utilizando todos os címbalos.
B- Utilizando parte dos címbalos.
C- Utilizando apenas a membrana de couro.
Oferece três tipos de sons: agudo, médio agudo e médio
grave. Devido a suas características polirítmicas é utilizado para criar
dinâmicas e floreios complementares a tabla ou derbak
Como bem enfatiza Vitor Abud Hiar, o Daff tem como principal
objetivo ostentar o ritmo árabe. Na sua opinião, a versão moderna do Daff
não é vista com bons olhos, uma vez que esta quebrou, de certa forma, a
tradicionalidade e pureza sonora de sua versão tradicional. No Brasil, o Daff
somente passou a ser conhecido pelo público em geral na metade dos anos 80.
Esse instrumento juntamente com Derbakke e os Snujs, foram os primeiros
instrumentos de percussão árabe a serem usados por músicos no Brasil. Fuad
Haidamus fora o primeiro percussionsita a tocar Daff em shows neste país.
Katm ou Maktoum –
Instrumento de base originalmente feito de madeira com couro de gazela ,sendo
confeccionado assim até os dias atuais, instrumentos sobre o qual não houve
modernização. Emite dois tipos de sons: grave e médio grave
Mazhar - (Bendir
de címbalos, Daff ou Duff de címbalos) - Largo pandeiro de sonoridade grave
podendo ou não possuir címbalos, dependendo de sua versão.
Muitos consideram esse instrumento um Bendir com címbalos ou
um Daff de címbalos. Na percussão libanesa, é usado como principal instrumento
base da execução rítmica, sendo tocado comumente entre as pernas do músico ou
na forma tradicional, empunhando-o em uma das mãos (principalmente no caso da
versão com címbalos).
Historicamente acredita-se que o Bendir ou Daff de címbalos
tenha sido um desdobramento de sua versão inicial. Não há o que se falar em
forma modernizada, nesse caso.
A Mazhar é feita em anel de madeira e pele grossa de cabra
ou gazela (animal, este, não mais utilizado nos tempos atuais) . Possui um jogo
de 5 címbalos duplos de bronze com diametro superior aos címbalos de Daff
libanês. Possui forte sonoridade.
Muitos caracterizam seu corpo como um "pandeiro de
dois andares", justamente por possuir uma profundidade acentuada, dando a
impressão de que é formado por dois pandeiros um em cima do outro. O diâmetro
bocal desse instrumento é duas vezes maior que o diâmetro de um Daff. Sua
versão modernizada apresenta revestimento em nylon e anel metálico ou madeira.
Vitor Abud Hiar aprecia a versão em pele de cabra ou gazela.
A Mazhar é tocada tanto no Líbano, Egito bem como em todos
os outros países da comunidade árabe. No Brasil sua utilização ainda é
bastante remota.
Bendir - O Bendir é um pandeiro típico do
Marrocos e Algéria, utilizado pelos beduínos ( habitantes do deserto ) no
acompanhamento de suas canções folclóricas. Possui as mesmas características do
instrumento analisado anteriormente, porém, não possui címbalos em seu anel, o
que o torna mais leve e fácil de manusear. O diâmetro de sua abertura bocal é
exatamente o mesmo da versão com címbalos confeccionada no Egito.
A característica
marcante deste instrumento é as cordas
que correm por dentro do corpo, rentes ao couro. Geralmente são 2 cordas, mas
pode ser mais. Elas são responsáveis pelo som de zumbido característico,
marcante na música Berber.
Esse pandeiro grande tem uns 20cm de largura (profundidade), e é feito de couro
de cabra e madeira. Tem até 70cm de diâmetro. O Bendir costuma ser decorado com
desenhos ou frases do Alcorão, usando para isso a henna. Ele tem um pequeno
furo na parte de baixo, usado para equilibrar o instrumento na base do polegar
esquerdo, enquanto os dedos da mão esquerda batem de leve na borda e a mão
direita toca na borda e no centro. As batidas no centro soam parecidas com o
som do Tar, um pandeiro que não tem as cordas. As batidas no centro criam um
tom estridente que morre rápido.
Devido sua pluralidade dimensional, o músico percussionista
deve sempre possuir um jogo de três pandeiros com tamanhos e, por consequência,
sons diferentes, ou seja, de circunferência pequena, média e grande.
Os egípcios o conhecem pelo nome de "Daff" ou
"Duff". É um instrumento não possui címbalos em seu anel. Recentes
pesquisas mostram que já existe a versão moderna desse instrumento,
confeccionada em anel de madeira ou plástico resistente e pele em poliéster
(nylon) leitosa.
Apesar de sua versão modernizada ter chegado a bons níveis
de comercialização, o Bendir tradicional em pele de cabra de altíssima
qualidade possui ressonância (vibração energética sonora) infinitamente
superior, sendo, sem dúvida alguma, o mais indicado para gravações e
apresentações ao vivo. É um importante instrumento de base na percussão
libanesa.
É excelente na execução base de ritmos rápidos, como , por
exemplo, o fallahi e o malfuf.
Pode receber várias denominações no mundo árabe. No Egito é
conhecido pelo nome Daff ou Duff, no Lìbano e Síria recebe a denominação
Mazhar. A versão com parafusos embutidos e sem címbalos é de procedência
sírio-libanesa.
Tabel (Tambor
oriental) – Significa "tambor grande". Instrumento solo originalmente
feito de madeira com couro de carneiro em seus dois lados, sendo confeccionado
assim até os dias atuais. Toca-se pendurado ao corpo. Emite um só tipo de som:
grave. Usado em danças folclóricas, chega a substituir a própria tabla em
algumas regiões. Possui um som contagiante.
Carkabib
Os Carkabib (ou karkabas, ou k'rkbs, ou qaraqeb) são usados pelos Gnawa
(tribo do Maghreb) em suas músicas tradicionais, acompanhando danças de transe
com as quais trazem a cura para as pessoas doentes, chamadas Stambali. Assim
como os snujs, ele é tocado com dois pares (um em cada mão).
Pertencem à família dos idiofones, e consistem de duas barras de metal planas com
dois círculos convexos (pequenos címbalos), tocados abrindo e fechando as mãos.
Cada carkabib tem cerca de 26,3 cm de comprimento e no máximo 9,5cm de largura.
Eles são feitos por ferreiros especializados.
Tabla Baladi ou Tabul A Tabla Baladi é semelhante à nossa zabumba (porém maior), um tambor com
duas "faces", tocado com duas baquetas: uma grande, que faz o som
grave, com a mão direita e, com a mão esquerda, uma vareta que faz os sons
agudos.
Ela é tocada dependurada no ombro por uma faixa, o que dá liberdade de
movimento ao músico, que muitas vezes sai da banda para tocar junto à
dançarina.
Tocado com baquetas é usado acompanhando o Mizmar
principalmente em apresentações de Raks al Assaya, casamentos e festas
folclóricas.
Bongô (bongos)
- Conhecido como o principal instrumento de percussão de ritmos como o Mambo,
Bolero, Rumba e demais ritmos caribenhos, este instrumento já faz parte da
percussão árabe há algum tempo. Por possuir um som agudo e seco, é utilizado
nas orquestras árabes como marcador de ritmo. Existem Bongos confeccionados em
madeira ( tradicional ), alumínio e cerâmica.
A versão tradicional, em pele de cabra e corpo de madeira,
ainda é a mais utilizada mundialmente. Segundo estudiosos, esse instrumento tem
sua origem no continente africano. No Brasil, é chamado de Bongô, ( forma
aportuguesada, conforme consta nos dicionários modernos da língua portuguesa ).
Em Cuba e demais países caribenhos, recebe denominação sempre no plural, ou
seja, "Los Bongos" ( "bongo" é o nome individual de cada um
dos dois pequenos tambores interligados)
Snujs - (Sagat,
Címbalos para os dedos) - Imortalizados no Brasil pelas mãos de Shahrazad
em suas apresentações de Dança do Ventre, esses pequeno címbalos de mão podem
ser considerados um dos primeiros instrumentos de percussão da humanidade.
Segundo estudos, foi inicialmente utilizado por sacerdotisas do antigo Egito.
Formam um conjunto de címbalos metálicos presos no polegar e
dedo médio de ambas as mãos. Quando tocados, dão vida e alegria ao ritmo que
está sendo executado. Na percussão egípcia, esse instrumento é conhecido como
Sagat. Segundo bem explica Vitor Hiar, os Snujs acompanham a percussão, e é por
isso que deve ser visto como um instrumento pessoal, ou seja, do particular (
geralmente de uma bailarina ou de um espectador que, ao tocá-lo, demonstra seu
entusiamo ante ao ritmo executado). No Brasil, Shahrazad é a grande mestra no toque
dos Snujs na Dança do Ventre.
Nai - Flauta de junco bem simples, com origens na civilização suméria.
Tem as duas pontas abertas, com 5 a 7 (mas normalmente 6) furos na frente, para
os dedos tocarem, e um furo em baixo; mas sem bocal.
É tocada soprando obliquamente na extremidade superior. O som que produz é
delicado e brando e, dependendo da força do sopro, o som sai em uma oitava
acima ou abaixo, e escalas de tons diferentes podem ser conseguidas com naiat
de comprimentos diferentes.
É o mesmo esquema das flautas-doces do ocidente.
É com certeza muito antiga - os arqueologistas encontraram evidências de sua
presença no Egito Antigo do terceiro milênio a.C.
Um ícone no que se refere a instrumento de sopro do mundo
árabe, possui som suave, hipnotizante, profundo e introspectivo quando tocada
solitariamente. Usada em todos os estílos da música árabe, sendo facilmente
identificada em taksins e rituais Sufi. Porém em outras composições musicais,
acompanhada de outros instrumentos, pode apresentar como resultado uma música
muito mais animada.
Na dança a bailarina demonstra o domínio de seu corpo nos
ritmos lentos, explorando movimentos sinuosos,ondulatórios e de braços e mãos,
respeitando o caráter introspectivo e aéreo produzido pelo som da flauta.
Mizmar –
Flauta de madeira curtida, semelhante a uma mini corneta, de som agudo e médio.
Instrumento também conhecido como zurna ou rhaita em outras regiões, é típico
das montanhas e também folclórico. Comum ser utilizada para introduções de
algumas músicas. É percebida especialmente no Said.
Numa música clássica, em 99 % das vezes que a ouvir, será
para marcar um saidi, em sua versão folclórica. Se a base rítmica for um saidi,
o Mizmar estará dando a ele seu tom folclórico. O som da Mizmar pode
ser lento, rápido, longo, curto, o que guiará sua leitura será a ocasião: solo
do músico – se for antes da entrada da música, a bailarina deve esperar, pois
se trata da apresentação da banda, se for depois da entrada, pode fazer
movimentos sinuosos -, folclore - não necessariamente o saidi, a bailarina
fará a marcação conforme o estilo folclórico -, floreio - também pede movimentos
sinuosos.
Mijuiz - Flauta
som agudo e médio agudo. Mijuiz significa, literalmente, 'duplo' em árabe, e é
um tipo de clarineta de junco dupla, popular na Síria, Líbano e Palestina.
Os dois tubos de junco são idênticos, pregados com piche ou cera de abelha, têm
cinco ou seis furos cada um. Dentro de cada tubo tem um outro tubo menor,
partido de forma que vibre para produzir o som. Diferente de outras flautas, a
mijuez e outros tipos de clarineta dupla são tocadas com o bucal todo dentro da
boca, por um método chamado "repiração circular", que permite ao
músico produzir um som contínuo e ininterrupto.
Um exemplo de respiração circular é a gaita usada geralmente para o
blues,natural de Nova Orleans,ela também tem o mesmo método de som
ininterrupto.
É predominantemente usado para companhar o dabke. Ele é um dos instrumentos de
sopro mais antigos.
Kawalla - Instrumento
parente dos Nays, feito de uma gramínea típica que cresce até 9 metros de altura. Existem 9 tipos de Kawala,
variando em tom e em tamanho. Possui um som intenso e é muito utilizado em
festividades egípcias.
Sua leitura na dança também deve ser feita com movimentos
sinuosos e ondulações.
Ud - O ud é um
instrumento antigo, provavelmente de origem persa, desenvolvido durante a época
áurea árabe para o que é hoje. É provável que os primeiros udes eram feitos de
uma peça única de madeira. Na época da Espanha moura, o corpo adquiriu seu
característico formato abaulado.
Diz a lenda que o 'ud foi inventado por Lamak, descendente direto de Caim;
quando o filho de Lamak morreu, ele pendurou em uma árvore seu esqueleto, que
tomou a forma do 'ud (uma contradição entre tradição mitológica e a
arqueologia, que aponta um processo de evolução da lira para o 'ud). O mito
atribui a invenção do mi'zaf (lira) à filha de Lamak.
O 'ud é constituído de uma caixa acústica grande com um braço pequeno, o que o
distingue dos alaúdes de braço comprido (tanbur, saz, baglama, setar etc). O
corpo evoluiu muito sua forma, que era de pera (formato ainda encontrado nos
qanbus).
O braço é chamado de raqba ('pescoço') ou zand ('pulso'). Ele vai desde a boca
até uns 20cm depois do corpo. Esse comprimento é importante na construção do
instrumento, pois determina a quantidade e intervalo das casas, interferindo
nas maqamat. Atualmente, no Egito, o comprimento do braço varia de 18 a 20,5cm.
É padronizado em 20cm na Síria, e pode chegar a 24,5cm num modelo marroquino, o
'ud 'arbi ('ud árabe).
O 'ud de cinco cordas é o mais comum e popular (existem também de 4, 6 ou 7
cordas). A afinação do instrumento, que variava muito no século XIX, está se
padronizando: de grave para agudo: yaka = sol; ushayran = lá; duka = ré; nawa =
sol; kardan = dó.
É o instrumento antecessor do alaúde, sendo considerado o 1º
Instrumento de cordas do Mundo.
Devido às invasões orientais e posteriormente ao comércio
desenfreado com os países no Mediterrâneo, o ud ficou conhecido na Europa antes
do ano 1000 d.C. Assim, o ud foi se adaptando às novas necessidades locais e
como as pinturas desta mesma época mostram, no século XV, os instrumentos se
transformaram definitivamente em alaúdes, com cinco ordens tocadas com palheta
ou posteriormente, com os dedos.
Alaúde –
O
alaúde foi tocado na Europa por mais de 500 anos e, por algum tempo, foi o
instrumento mais importante na cultura européia.
Seu nome vem do árabe Al – Úd, que significa "a
madeira", sua origem remota ao
século VII, possui braço curto e fundo arredondado, com 12 cordas. No passado,
suas cordas eram feitas de seda e tripa de carneiro. Atualmente, as cordas são
feitas de nylon e aço, e a richie (palheta usada para tocar o instrumento), antigamente
, era feita de pluma de águia e atualmente é feita de acrílico. Considerado o
principal instrumento da música árabe, é capaz de seguir qualquer melodia.
Já no mundo romano, o alaúde era chamado fidicula (pequena
corda), outro nome que daria origem a muitos descendentes: fidula, vitula,
vihuela, viola, violino, etc. O ud existiu por mais de mil anos e em alguns
lugares é tocado ainda hoje.
Na dança, como o som do Alaúde tem uma vibração mais longa,
podemos fazer tremidos com o quadril solto, acrescentando movimentos sinuosos (como
camelos, redondos, oitos) e deslocamentos ao tremido e mantendo os braços de
forma harmoniosa e suave.
Bouzouk -
É um
alaúde pequeno no corpo e longo no braço e produz sons mais agudos. Utilizado
na Grécia, mas também encontrado em países árabes. Muito utilizado para tocar o
tsiftetelis.
Kamanja , Violino e
violoncelo: De origem europeia, foram adotados pela música árabe no século
XIX. Na segunda metade do século XX tornou-se comum sua utilização nas grandes
orquestras. Neste mesmo século o violino já havia tomando o lugar da antiga e
ainda usada Rabeb (instrumento folclórico que é o pai do violino e da Rabeca).
Kannun – Instrumento
semelhante a Citara, de forma trapezoidal, que é tocado com o auxílio de um
plectro e utilizando os dedos de ambas as mãos. Possui de 25 a 30 conjuntos de
cordas triplas de nylon.
Se executa ponteios, com as pontas dos dedos envoltas por anéis metálicos, um
em cada mão. Ambas as mãos podem tocar a mesma corda fazendo um som
“tremeluzente”. Descende de uma antiga harpa egípcia. Seu nome, ao pé da letra
significa "a lei". É posicionada no colo do músico, ou em cima de uma
mesa especial, colocada em frente ao músico, que a tocará sentado.
O som é mais rápido que o do alaúde, mais vibrante, então na dança o
tremido deve ser mais contido. Também é possível interpretar com movimentos
ondulatórios.
Saz - Da família
dos baglamas, tem como característica um braço normalmente mais logo que o
alaúde e uma sonoridade pungente. Muito utilizado na Turquia, Irâ, Azerbaijão,
Curdistão e Balcãns.
Esta comédia-romântica conta a história da norte-americana Lola (Laura
Ramsey). Nascida no Wisconsin, muda-se para Nova Iorque sonhando em se tornar
uma dançarina. Porém, somente o que consegue é um simples
trabalho nos correios. Desencantada com a falta de perspetivas, é apresentada
à dança do ventre por seu amigo Yussef (Achmed Akkabi), que
lhe conta a história da lendária bailarina Ismahan(Carmen Lebbos), mostrando-lhe
uma fita de vídeo. Mas isso não é suficiente para fazer Lola embarcar no
mundo da dança do ventre. Certo dia ela conhece Zack, um estudante egípcio
(Assad Bouab), e apaixona-se. Mas Zack tem de regressar ao seu país, e Lola decide
ir atrás dele. Chegando lá Lola tem um desilusão... No entanto a cidade do
Cairo torna-se fascinante e ela decide procurar a lendária Ismahan. Quando
finalmente a encontra, reclusiva e caída em desgraça, Lola convence-a a dar-lhe
lições...
Destaca-se aqui, de forma brilhante, a forma como se dá o
aprendizado da dança. O caminho técnico, porém subjetivo. A dança que deve
brotar de cada mulher e que é uma grande lição para todas nós!
“Eu não posso te
ensinar a ser vc mesma... Use tudo o que está vivendo... Não fuja dos seus
sentimentos... Mostre-me seu interior...”
. "Whatever Lola Wants" chegou a ser
premiado no festival de cinema em Dubai, e acumula críticas positivas em
todos os sites que se dedicam a fazer uma sinopse dele. Das atuações
inspiradas, a mais comentada é de Carmen Lebbos, a Ismahan, descrita como
uma personagem densa e única, como nunca vista no cinema. Além disso, a trilha
sonora de Lola também é um sucesso, a música tema "Whatever Lola
Wants" cantada por Natacha Atlas circula por nossos
arredores sem que saibamos a sua origem cinematográfica!!
Um dos pontos altos, como comentam os críticos, é o tom de comédia que o filme
dá, abrindo espaço, sem tocar na ferida, para abordar os preconceitos de
"mão-dupla" que existem entre o Ocidente e o Oriente,
e os mal-entendidos que acontecem pelo "choque de culturas" que Lola
perpassa. O enfoque positivo que o filme dá também à dança do ventre é
um dos seus atrativos, mostrando aqueles que a praticam de forma carinhosa, sem
o característico olhar cheio de pudores e maledicências dos filmes em geral.
Assim, "Tudo que Lola quiser" é um filme sobre tolerância
quanto às nossas diferenças entre o Ocidente e o Oriente, e sobretudo sobre
esperança. A dança do ventre surge como um elo possível entre estes dois
mundos, enfatizando mais uma vez que a arte, em todas as suas formas, é uma
ferramenta capaz de aproximar os povos, além das fronteiras e da política.
O Dabke faz parte do
folclore libanês. É uma dança executada por homens, mulheres, casais e
crianças. A palavra “Dabke” significa “bater no chão com o pé”. Esta é a origem
da dança: ato de amassar o barro ao lado da comunidade e de cantar e alegrar-se
com o trabalho.
Em tempos antigos, antes de
forros estáveis serem instalados nos lares Libaneses. Seus forros planos eram
feitos de galhos de árvores que eram tapados com barro.Quando vinha a mudança
de estação, especialmente o inverno, o barro iria rachar e iriam começar as
goteiras, o que tornava necessário o conserto. O dono da casa iria chamar seus
vizinhos para ajuda- Al-Awneh- e os vizinhos iriam subir no forro. Eles
seguravam as mãos, formavam uma linha e começavam a bater os pés enquanto
caminhavam sobre o forro com a finalidade de ajustar o barro.
Depois de um tempo,
Al-Awneh, ficou conhecido como Dalunah, uma forma improvisada de Dabke cantado
e dançado, que é hoje a base de todos os dabkes, sobre a qual se desenvolvem o
canto e as evoluções. Um derbake (tambor feito com cilindro de argila sobre o
qual é esticada uma pele de cobra), nay (flauta longa de bambu) e um mijwiz (flauta
embarrilhada dupla de alta diapasão) foram adicionados para manter os homens
trabalhando no tempo frio - isso estimulava maior energia pela pressão
sanguínea. Com o tempo a dança Dabke se tornou uma das tradições Libanesas mais
famosas.
O dabke é constituído de uma
longa fila, em que todos executam os mesmos passos. Na ponta, ficam dançarinos
mais hábeis, que realizam evoluções arrojadas. Os adereços usados não são
muitos. O masbaha é um deles – compõe-se de um colar de contas – que é girado
por quem está “puxando” o dabke.
O folclore libanês possui
grande variedade de passos com movimentos básico, intermediários e avançados.
Porém, seu passo básico é relativamente simples com contagem de quatro passos,
sendo que o quarto é uma batida do pé no chão. Além dos passos soltos, existem
movimentos e passos tradicionais para se dançar sozinha, em casais ou em
grupos. Alguns dos passos são originários dos passos tradicionais do Dabke
Baalbakiye e Bedáuiye e que são muito utilizados na montagem de coreografias.
Um dos rítmos mais
utilizados para se dançar é o jabalee.
As roupas das mulheres são
bastante coloridas. Elas podem usar somente vestidos (Jalabiye ou Aabaye) ou
vestidos acima de calças. Usam lenços ou xales amarrados na cintura, bijuterias
e sapatos com salto médio, adequados para dança. Na cabeça elas colocam véus
com faixas. Algumas vezes, usam cestos de palhas ou jarros na cabeça para
executar coreografias.
Os homens usam o cherwél
(calça larga tradicional) com vestimentas coloridas sobre suas camisas e botas.
Eles usam ainda coletes de cores variadas para compor o conjunto com uma faixa
vermelha que é colocada na cintura. Na cabeça os homens usam o tarbuch (chapéu
típico, cônico, avermelhado conhecido em vários países como “Fez”), com uma
faixa amarrada junto a testa. Também é comum homens dançarem sem nada na cabeça
ou então com o aaguél ua kaffiye (turbante)
Há dois tipos de Dabke: O
popular, no qual se repetem os mesmos passos, normalmente dançado em festas. Ainda
hoje é possível encontrar, no interior do Líbano, nas aldeias mais afastadas,
essa dança folclórica bastante pura e preservada. E o Dabke coreografado,
que agrega passos libaneses, sírios, palestinos, egípcios, etc.
Vários grupos e festivais
retomaram a antiga dança profissionalmente, a partir dos anos 1960. É o caso da
companhia teatral Anwar, fundada por Wadiha Jarrat, muito famosa em todo o
Oriente e que estabeleceu um padrão de excelência para o dakbe.
Wadiha Jarrat era capaz de
recrutar um grande número de dançarinos que ela usava durante festivais
chamados Baalbek. Eram filas espetaculares de homens mulheres que davam as mãos
e avançavam em direção a platéia, os pés batendo no chão em uníssono, levando
os teatros abaixo e gerando irreprimível entusiasmo entre a audiência.
Jarrat colaborou com os
irmãos Rahbani e Fairuz, a diva contemporânea mais venerada no Líbano, criando
a Opereta Libanesa, baseada em lendas folclóricas daquele país.
Graças a esse renascimento,
atualmente escolas de todo o Líbano ensinam o dabke aos seus alunos. Pequenas
companhias apresentam-se por todo o país, quanto clubes locais realizam o
chamado “Jantar de Aldeia”, que acontece anualmente em agosto.
Texto muito agradável, sobre, no cotidiano de um vilarejo libanês, a formação de uma roda de Dabke. A escrita do texto nos faz viajar rumo ao ambiente bucólico descrito.
“A Dança do
Vilarejo Libanês
Imagine-se andando numa Vila cheia de pessegueiras, macieiras e plantações de
Uva, e sentindo o aroma da colheita de meio de Setembro. Isso, meus amigos, é
um vilarejo encontrado no Líbano seguindo as tradições que seus ancestrais
deixaram.
Vilarejos Libaneses são famosos por muitas de suas tradições ancestrais e com
honra as carregam de geração para geração. Muito disso consiste da cooperação
da família e neste caso toda a Vila se torna uma FAMILIA.
No meio de Setembro, familias se encontram nos seus campos, para celebrar a
temporada de colheita do Vinho. As uvas colhidas das Parreiras foram separadas,
algumas para fazer Arak , algumas para Vinho, outras para Vinagre e o resto
para fazer doces de Uvas. O ar está tomado pelo delicioso aroma do suco de Uva
que está sendo aquecido ao fogo. Algumas mulheres recheiam suas belas travessas
com tabouleh, hummus, babaghanouj, folhas de uva e uma coleção de petiscos,
frutas, e pães. Outras andando balançam seus jarros de água sobre as cabeças
com elegancia. Os jovens rapazes e moças, vestindo roupas festivas, vão com
suas mães conhecer os membros mais velhos de sua familia nos campos. as jovens
mulheres estão vestidas em esvoaçantes calças e camisas e longas vestimentas;
véus e lenços com bela decoração e adornos nas cabeças. Os homens estão
vestindo seus sherwals e labbadeh (calças largas e chapéus típicos) com
vestimentas coloridas sobre suas camisas e botas.
Um homem idoso entra em cena carregando um derbake(um pequeno tambor feito de
um cilindro de madeira e pele de carneiro esticada), seguido de uma turma de
outros com seus nay e mijwiz (o nay é uma flauta de bambu simples longo e
o mijwiz é uma flauta dupla mais curta).
A musica começa a tocar, e a brisa fresca da tarde de Setembro está em todo
lugar. Alguns homens e mulheres seguram as mãos e começam a dançar para a
entonação Dalunah, a base de todos os Dabkes (para bater no chão com um dos
pés), enquanto outros batem palmas criando o ritmo apropriado. Então se abre
caminho para o canto improvisado; uma mulher entra em cena com um jarro
balançando sobre sua cabeça e é seguida por outras, como que competindo. Então
os homens tomam parte com suas espadas, fazendo a dança da espada para o ritmo
do mijwiz. Conforme o tempo vai passando, os mais velhos vêm participar também,
segurando as mãos com os mais jovens formando uma linha unitiva e fazendo o
mesmo passo. O homem e mulher nas estremidades opostas da linha fazem passos
diferentes para mostrarem quão competentes, ágeis e graciosos eles são. O resto
da turma bate palma e canta para revelar sua felicidade.
Um homem idoso chama e anuncia que o suco de Uva já esquentou e já esfriou,
eles podem bebe-lo. Aqui a atmosfera está recheada com ululação para os homens
responsáveis pelo suco e para as mulheres que preparam a comida. E conforme a
ululação continua o tempo do Dabke aumenta.
Felizmente, de todas as tradições libanesas essa cena não morreu, especialmente
nos Vilarejos.O Dabke é uma dança nacional Libanesa que é levada em todo Clube,
restaurante, ou festa.”
O uso do bastão faz parte da dança "tahtib", e
este instrumento, que hoje é usado como forma de adorno ou para demonstrar
habilidades, símbolo de virilidade entres os homens, também serviu em tempos
remotos como arma de defesa e ataque nas lutas e combates.
O estilo feminino conhecido pelo nome Saidi ("Dança do bastão")
nasceu a partir de pesquisas de campo de Mahmoud Reda, sendo inspirado por um
jogo marcial típico chamado Tahtib (essencialmente masculino), em que homens,
com seus longos bastões, simulam uma luta dançada, demonstrando habilidade, e
destreza, assim como habilidades surpreendentes num ataque mais do que
harmônico. Nele algumas partes do corpo valem mais pontos do que outras e, quando
um participante é atingido em seu ponto mais vulnerável, perde a batalha. Podem
existir pequenas diferenças de estilo dependendo da cidade. Mahmoud Reda foi
tão específico em seu estudo que um egípcio, sentado na platéia, poderia
perceber, através destes detalhes tão peculiares, a que região de seu país
pertencia o que estava sendo apresentado no palco!
Mais tarde desenvolveu-se uma performance de Saidi para
grupos mistos, na qual homens e mulheres dividiam o palco. Diferentemente dos
homens, quando as mulheres utilizavam os bastões seus movimentos eram mais
suaves e delicados demonstrando claramente a diferença entre os dois. No
contexto de folclore a dança saidi mostra grupos masculinos e femininos,
inicialmente separados para depois formarem casais. Como uma espécie de “quadrilha”
das nossas festas juninas.
O tahtib pode ser dançando com um ou dois bastões sendo eles
de preferência retos e maciços. Os bastões originais são pesados por serem feitos de cana egípcia, uma
espécie de cana reino. Porém, atualmente temos encontrado bastões feitos em
taquara ou bambu, mais leves para o manuseio
O figurino dos homens é composto por galabeya (”camisolão”),
tae'ya (“chapeuzinho”) e lessa (lenço que prende a tae'ya). Para mulheres a
galabeya tem longas mangas e um cinto marcando o quadril. O cabelo é coberto
por um longo lenço negro. O vestido das mulheres é totalmente coberto e muito
bem comportado, podendo ter atrás um bordado típico em formas de meias luas, que
remete exatamente as suas origens, como sendo habitantes do campo. Esse formato,
que lembra as luas, é comum em jóias oferecidas como dote de casamento nas
regiões rurais. Então o motivo aparecendo nas roupas é uma clara alusão ao
grupo a que esta manifestação artística remete.
Os instrumentos típicos para o Said são o Tabla (instrumento
de percussão, parecido com um grande tambor), o Mizmar (instrumento folclórico
de sopro) e o Rebaba (viola de uma ou duas cordas tocadas com um arco feito de
crina).
Os principais movimentos com o bastão são: os giros
verticais, horizontais e transversais sempre em harmonia com o trabalho dos
giros, deslocamentos e etc... Requer muita habilidade do bailarino. A precisão
e a destreza são fundamentais contrastando com alguns movimentos brutos.
Já na dança do ventre - ou seja em apresentações solo - a
bailarina representa uma mulher saidi diferente. Ela toma o bastão, instrumento
masculino, demonstrando habilidade, força e muita coragem. Como se, de maneira
brincalhona ela desafiasse as tradições dizendo "eu também posso". Os
passos típicos exigem muita ginga e “pulinhos” graciosos, o quadril é forte e
preciso. As mãos e braços apresentam desenhos simples muito diferentes da dança
clássica, parecendo sugerir uma dança mais rústica, porém igualmente graciosa. O
uso do bastão pelas mulheres pode possuir um efeito figurativo: ao desarmar o
homem, tomando o seu bastão, a mulher egípcia demonstra sua graça e habilidade,
pretendendo igualar-se ao companheiro. Uma das primeiras bailarinas a dançar
com o bastão foi Fifi Abdo.
Nesse território quase tudo é permitido, afinal temos
"licença poética" como bailarinas e interpretamos o que consideramos
mais interessante para nosso show. O número de saidi é um momento ímpar na
apresentação e oferece muitas possibilidades de interação do público. A música
é forte e parece acordar a percepção: a flauta mizmar lembra-nos imediatamente
de que se trata do Egito e a percussão cadenciada marca sua origem africana.
Coreógrafos respeitáveis como Mahmoud Reda definem saidi
como a dança que tem origem em três cidades do Alto Egito: Luxor, Assuan e
Qena. Entendemos que observando a dança popular dessa região criou-se uma dança
folclórica representando a personalidade e o cotidiano desses habitantes.
Consideram-se adequados para esta dança os ritmos
folclóricos Said puro ou said+baladi
seguido do maqsound, malfuf.
Atenção! O bastão não é o elemento peculiar que caracteriza
uma dança como saidi. Também encontramos no conjunto chamado de baladi egípcio
e libanês diferentes danças com bastão, de acordo com o que se quer representar
(região, costumes, povo). Portanto, observe mais elementos para desenvolver sua
apresentação enriquecendo assim seu estudo.
É preciso transformar a música em dança, num movimento de fora para dentro, mas principalmente, num movimento inverso, externalizar os sentimentos, transparecer a alma, transformar o corpo em música, em dança, em arte. A unidade se faz em todos os sentidos. O seu estilo de dança não será criado. Ele já existe. Basta você abrir espaço para que ele possa surgir. Dance com alma!