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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Estrutura das aulas: Sequências coreográficas



Eis aqui outro ponto bastante controverso. Alunas que não tem intensão de participar de apresentações acreditam ser este trabalho coreográfico irrelevante e sem importância. Algumas chegam a considerá-lo uma perda de tempo. Quase como se não estivessem se exercitando ao estudar uma música mais pausadamente.

Aqui gostaria de abrir um parêntese para, brevemente, abordar essa questão da atividade física. Construímos uma cultura na qual acreditamos que a atividade física eficaz é aquela que faz com que eu me sinta exausta, ofegante e suando muito. Associamos o emagrecimento ao fato de suarmos. Porém, quando suamos somente perdemos líquido, em uma resposta termorreguladora de nosso organismo. E quando suamos muito e ficamos ofegantes, isso é sinal de que nosso organismos se encontra em morte celular. Precisamo reavaliar o que consideramos uma atividade física saudável. Não é necessário estarmos em morte celular para queimar calorias e trabalhar nosso corpo.
Voltemos então a sequência coreográfica.
Elaborá-la talvez seja o que dá mais trabalho ao professor. Porque não basta criar uma dança. É preciso estudar a música, estudar a turma, criando alguma coisa que se adeque a realidade dela, para depois partirmos para o processo criativo em si. Após criada, o trabalho continua. É necessário repassá-la muitas vezes antes de começar a passar para a turma e depois estar atenta a forma como cada aluna está apreendendo e reproduzindo, com flexibilidade suficiente para produzir modificações que se façam necessárias, nesse contato de cada corpo com aquilo que foi, inicialmente, idealizado.
Vale ter em mente que todo esse trabalho não visa somente uma exposição em apresentações. Muita coisa é trabalhada através do desenvolvimento coreográfico. Vamos conhecer algumas delas.
Primeiro aprendemos  a ouvir a música. Nuances dela, que poderiam não ser percebidas, tornam-se agora objeto do nosso foco. Uma marcação com nosso corpo pode ou não evidenciar algum elemento musical, treinando nosso ouvidos a apreciar composições tão ricas. O ensino começa a ser conduzido no sentido de encaixar os passos aprendidos, através da técnica, na música. Aos poucos é possível perceber formas diversas para sua leitura musical. Através do trabalho coreográfico podemos reconhecer batidas e melodias diferentes, transformando-as em linguagem gestual. Aprendemos que dentro de uma música há frases e elas precisam ser ouvidas e respeitadas. Aos pouco vamos aprendendo a reconhecer a estrutura e composição de cada música para podermos transformá-la em dança.
Outro ponto trabalhado é a sequência em si. Possibilidades de composição de passos, emendas. Quais movimentos posso utilizar na leitura de um instrumento. Inicialmente aprendemos a utilizar movimentos ondulatórios para músicas ou trechos lentos, básico egípcio em ritmos de 4 tempos, shimmie e marcações em solos de percussão... Com o tempo e através do trabalho do estudo de sequências percebemos possibilidades infinitas. Utilizamos também ondulações e deslocamentos em solos de percussão e marcações em ritmos lentos, isso só para dar um exemplo. Percebemos que há um corpo inteiro para dançar. Mãos, pés, pernas, quadril, peito, cabeça, abdômen. Aprendemos a inserir cada parte do corpo em nossa dança. Ficamos presentes e inteiras, com total consciência de nós mesmas! Um pouco mais adiante aprendemos que uma leitura musical pode ser muito mais precisa se emendamos os movimentos de forma mais elaborada, com poucas repetições.
Inicialmente as coreografias são algo bastante trabalhoso, que exige estudo, concentração e consciência. Mas é a partir delas que vocês ganham elementos para dançar! Primeiro as próprias coreografias e depois de algum tempo, com todos os elementos trabalhados, vocês podem criar danças suas. Podem criar e interpretar a seu modo, experimentando todo o sentimento de liberdade que a dança nos oferece! 

Ju Najlah

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Deslocamento



Os deslocamentos são momentos de grande leveza dentro da dança e, também, de preenchimento de palco. Em uma rotina clássica oriental, os deslocamentos inicial e final representam os momentos de primeiro contato com seu público, de sentir sua energia e estabelecer uma comunicação e o momento de despedida, agradecimento e encerramento do contato estabelecido e da comunicação construída.
Eles podem acontecer de diversas formas. Em uma Rotina Clássica Oriental devem sempre primar pela elegância, já em folclores a forma como o deslocamento vai acontecer vai depender de cada um deles. Podemos nos deslocar utilizando chasses, compassos, passo turco, giros, simplesmente andando na meia ponta alta, fazendo algum tipo de "brincadeirinha", enfim. Esses deslocamentos podem vir ou não acompanhados de outros movimentos, como redondos, oitos, ondulações, movimentos de braço, shimmie... 
Os deslocamentos podem ser construídos com as passadas fazendo a leitura da base rítmica. Neste caso podemos também fazer a leitura da melodia, por exemplo, com movimentos de braços ou véus, com giros, transitando pelas várias "camadas" da música. Porém, há momentos em que podemos fazer um deslocamento dentro da melodia. Tudo vai depender da nossa intenção de movimento, do que, na música, estamos buscando interpretar.
E aqui entra um aspecto muito importante: a dança deve ter sempre uma intenção. É essa intenção que confere limpeza a seus movimentos. Estabeleça a sua intenção de movimento e o faça. Não mude de ideia no meio do movimento. Execute-o inteiro, completo. Isso serve para qualquer movimento dentro da dança. Durante o deslocamento não é diferente. Após ter escolhido me deslocar, escolho como vou fazer isso: se somente vou transitar pelo espaço, se vou fazer unindo movimentos, qual leitura estou fazendo da música e para que direção vou. É preciso nortear os caminhos. Um deslocamento sem intenção deixa a dança confusa.  Aqui vale ressaltar as possibilidades de deslocamento para as laterais (direita e esquerda), para frente e para trás, para as diagonais e os deslocamentos em círculo e oito.
Precisamos dar devida atenção a esse estudo. Os deslocamentos bem feitos enriquecem sua dança e encantam o público, porém, deslocamentos demasiados e sem intenção confundem e levam àqueles que estão assistindo a dispersão. Trabalhe por uma dança clara, limpa e bela!

Planos de deslocamento:


Texto revisado e modificado em 04 de novembro de 2014


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Estrutura das aulas: A importância da técnica na Dança do Ventre


http://www.flickr.com/photos/edmilsondelima/2966664479/

Lecionar Dança do Ventre exige da professora certo jogo de cintura para lidar com uma multiplicidade de objetivos e intensões dentro da sala de aula. Cada aluna tem uma vivência e um interesse ao buscar aprender a dança. Infelizmente em muitos casos fica complicado separar as turmas de acordo com os interesses, o que seria o ideal. Quando essa separação em turmas que querem somente se exercitar e turmas que querem se apresentar ou profissionalizar não é possível, o trabalho dentro de sala precisa, de certa forma, atender aos grupos que estiverem ali presentes.
Por esse, além de outros motivos, ministrar tais aulas exige atenção a alguns aspectos. O trabalho é de via múltipla e se deixo de trabalhar algum ponto, o ensino ficará deficitário. Nesta série de posts abordarei temas que considero importantes e que procuro trabalhar em minhas aulas. Começaremos pela técnica.
Quando nos propomos a aprender Dança do Ventre entramos em contato com um mundo novo. A música oriental é muito diferente da que habitualmente ouvimos e os movimentos exigem certa consciência e a possibilidade de isolamento de determinados grupos musculares. Assim como não aprendemos a ouvir as nuances da música árabe de um dia para o outro, os movimentos também não ficam prontos em nosso corpo rapidamente. É necessário que haja dedicação, que a consciência corporal para a melhor execução dos movimentos seja desenvolvida, que seja feito um trabalho de tonificação e alongamento da musculatura, para que ela responda de forma mais eficaz, e que seja feita muita repetição. Somente com repetição a memória do nosso corpo se apropria dos movimentos.
Esse trabalho, em muitos momentos, gera certa ansiedade. Algumas alunas creem já saber executar os movimentos e querem logo partir para aprendizados mais avançados. Outras, por estar buscando somente se exercitar, querem partir para uma aula mais animada e dançada. Mas fica aqui a questão: como é possível passar para algo mais avançado ou mesmo dançar antes que os movimentos básicos estejam prontos e limpos em nosso corpo?
Quando se trata de músicas e movimentos de nossa cultura, essa aula inteira dançada e animada é possível, pois se tratam de movimentos aos quais estamos habituadas. No caso da dança oriental, se o conhecimento dos apoios, grupos musculares trabalhados, desenhos feitos pelo corpo, não for passado, além de a aluna ter mais dificuldade na execução deles ela poderá se lesionar. Se, além disso, ficarmos ansiosamente seguindo uma sequencia iniciante de passos visando queimar calorias, os movimentos simplesmente não ficarão prontos e a gama de movimentos estudados será extremamente limitada, resumindo as aulas em mera repetição do mesmo. Não teremos um leque de movimentação para desenvolver a nossa dança.
Quando então, “perdemos” um pouco mais de tempo treinando nossos oitos, redondos e shimmie, além de trabalhar os diversos grupamentos musculares envolvidos, o que já é um excelente exercício, estamos preparando nosso corpo para que possamos futuramente criar movimentos novos e para que possamos hoje, fazer essa dança, mais animada. Agora, se os movimentos não forem apreendidos, a dança não é possível. O básico precisa ser muito bem trabalhado.

É preciso transformar a música em dança, num movimento de fora para dentro, mas principalmente, num movimento inverso, externalizar os sentimentos, transparecer a alma, transformar o corpo em música, em dança, em arte. A unidade se faz em todos os sentidos. O seu estilo de dança não será criado. Ele já existe. Basta você abrir espaço para que ele possa surgir. Dance com alma!

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