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sábado, 9 de maio de 2015

Tarab

Alguns cantores, como Om Khoulsoum, conseguiam, através de suas músicas, levar o público a um estado de êxtase, chamado Tarab. Tais músicas foram compostas apenas para fruição do público, que tem por tais cantores, principalmente por Om Khoulsoum, profunda admiração e respeito. Esta cantora foi considerada por muitos a maior de todos os tempos!
As peças originais são bastante longas, chegando a ter cerca de 50 minutos. Era comum a orquestra tocar toda a introdução da música, que pode ter cerca de 10 minutos, para que a cantora pudesse começar a cantar, porém, no momento em que Om Khoulsoum subia ao palco, era ovacionada pelo público. Então a orquestra tocava a introdução novamente e Om Khoulsoum era novamente ovacionada ao cantar o primeiro verso. Por serem composições muito longas e objeto de profunda admiração por parte dos egípcios e de todo povo árabe, tais músicas, inicialmente, não eram dançadas. Dizem que a primeira bailarina a dançar uma música de Om Khoulsoum foi Souhair Zaki.
Em função da grande carga emotiva gerada por essas músicas, quando dançadas, elas precisam necessariamente ser sentidas e expressadas. Cabe pontuar que não se trata de interpretação. É importante saber do que a música fala, estudar sua letra e aprender a perceber, na parte instrumental, a harmonia com o que está sendo cantado e expressado pela música. Poder perceber a sensação que a melodia nos passa ajuda em sua interpretação.
        Tais músicas são chamadas de músicas clássicas pelos egípcios e isso muitas vezes gera certa confusão com o que chamamos Rotina Clássica Oriental. Esta tem uma estrutura rígida e é composta para a dança. Já o Tarab (ou música clássica) é composto para ser ouvido e apreciado. Inclusive o nome Tarab não é o nome de um estilo musical, mas de um estado de contentamento que o público e o cantor atingem juntos. Alguns optam por classificar essas músicas como "Tradicionais", mas no meu ponto de vista também não seria o termo mais adequado, levando-se em consideração que a palavra tradicional diz respeito a tudo que se refere a uma tradição, sendo assim, uma música folclórica também poderia ser considerada como tradicional.  Embora inadequadamente, utilizarei neste post o termo "Tarab" para classificar o estilo musical de que estamos tratando por dois motivos: porque ainda não consegui encontrar um termo melhor do que "música clássica" para classificar essas músicas e porque o termo música clássica poderia, aqui no Brasil, gerar confusões com a Rotina Oriental.
Para melhor entendermos como é possível chegar a esse estado de contentamento, citarei aqui o livro de Marcia Dib, "Música Árabe", em um trecho que indica, na cultura oriental, alguns pontos considerados essenciais para a construção de um bom músico. O primeiro ponto é a sinceridade emocional (siqd). Trata-se de "um sentimento genuíno, uma carência de artifício, e uma rendição do vocalista pelo verdadeiro significado da letra da música. Sidq conclui que o artista entende as palavras e está apto para expressar seu significado ao ouvinte, traduzindo-os através de seus próprios sentimentos." (SHANNON apud DIB). O segundo ponto diz respeito ao "espírito oriental", que é algo intimamente relacionado a sinceridade emocional. Pessoas dotadas de espírito oriental são emocionais e sensíveis, estando abertas para ser tocadas pela música, entrando na música e representando-a completamente, colocando sua personalidade e presença nela. Estando o artista sincero consigo mesmo e apto a essa afetação pela música, "é possível que sua ligação com o público seja tal que produza o tarab, ou seja, um prazer estético profundo, provocado na plateia pelo músico." (DIB). "Em árabe, tarab abrange vários conceitos:
"se refere linguisticamente a um estado de elevação emocional, frequentemente trazida como 'arrebatamento', 'êxtase' ou 'encantamento' mas que pode indicar tristeza ao mesmo tempo que alegria. Tarab também descreve um estilo de música e apresentação musical no qual tais estados emocionais são evocados e despertados em apresentações e audições. Finalmente, tarab constitui um termo geral na estética árabe que descreve um tipo de alegria estética ou êxtase em relação a um objeto de arte: alguém deve, por exemplo, experimentar o tarab ao ouvir um poema ou mesmo quando admira uma pintura, do mesmo modo quando ouve uma música, então geralmente o tarab é restrito ao ato de ouvir"" (SHANNON apud DIB)

        Podemos citar como outro cantor que levava o público ao Tarab o Abdel Halim Hafez. E podemos citar Baatereflek como uma música libanesa que também é considerada um tarab.
        Para estudos citarei aqui outras músicas dentro desse estilo: Inta omri, Alf leyla wa Leyla, Entel hob, Leilet Hob, Lessa faker, Sirt el hob, Fakarouni, Ana fi intizarak, Ana bastanak, Ansak ya salam, El hob kolloh, Baed anak, Hayartalb maak, Akdeb Alek*

*Os nomes das músicas são links para suas respectivas traduções.

Fontes:
DIB, Márcia. Música árabe, Expressividade e Sutileza
AISHA, Hanna. Tarab. Disponível em: http://hannaaisha.blogspot.com.br/2011/06/tarab.html
Conhecimentos adquiridos em aulas e workshops

É preciso transformar a música em dança, num movimento de fora para dentro, mas principalmente, num movimento inverso, externalizar os sentimentos, transparecer a alma, transformar o corpo em música, em dança, em arte. A unidade se faz em todos os sentidos. O seu estilo de dança não será criado. Ele já existe. Basta você abrir espaço para que ele possa surgir. Dance com alma!

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