O uso do bastão faz parte da dança "tahtib", e
este instrumento, que hoje é usado como forma de adorno ou para demonstrar
habilidades, símbolo de virilidade entres os homens, também serviu em tempos
remotos como arma de defesa e ataque nas lutas e combates.
O estilo feminino conhecido pelo nome Saidi ("Dança do bastão")
nasceu a partir de pesquisas de campo de Mahmoud Reda, sendo inspirado por um
jogo marcial típico chamado Tahtib (essencialmente masculino), em que homens,
com seus longos bastões, simulam uma luta dançada, demonstrando habilidade, e
destreza, assim como habilidades surpreendentes num ataque mais do que
harmônico. Nele algumas partes do corpo valem mais pontos do que outras e, quando
um participante é atingido em seu ponto mais vulnerável, perde a batalha. Podem
existir pequenas diferenças de estilo dependendo da cidade. Mahmoud Reda foi
tão específico em seu estudo que um egípcio, sentado na platéia, poderia
perceber, através destes detalhes tão peculiares, a que região de seu país
pertencia o que estava sendo apresentado no palco!
Mais tarde desenvolveu-se uma performance de Saidi para
grupos mistos, na qual homens e mulheres dividiam o palco. Diferentemente dos
homens, quando as mulheres utilizavam os bastões seus movimentos eram mais
suaves e delicados demonstrando claramente a diferença entre os dois. No
contexto de folclore a dança saidi mostra grupos masculinos e femininos,
inicialmente separados para depois formarem casais. Como uma espécie de “quadrilha”
das nossas festas juninas.
O tahtib pode ser dançando com um ou dois bastões sendo eles
de preferência retos e maciços. Os bastões originais são pesados por serem feitos de cana egípcia, uma
espécie de cana reino. Porém, atualmente temos encontrado bastões feitos em
taquara ou bambu, mais leves para o manuseio
O figurino dos homens é composto por galabeya (”camisolão”),
tae'ya (“chapeuzinho”) e lessa (lenço que prende a tae'ya). Para mulheres a
galabeya tem longas mangas e um cinto marcando o quadril. O cabelo é coberto
por um longo lenço negro. O vestido das mulheres é totalmente coberto e muito
bem comportado, podendo ter atrás um bordado típico em formas de meias luas, que
remete exatamente as suas origens, como sendo habitantes do campo. Esse formato,
que lembra as luas, é comum em jóias oferecidas como dote de casamento nas
regiões rurais. Então o motivo aparecendo nas roupas é uma clara alusão ao
grupo a que esta manifestação artística remete.
Os instrumentos típicos para o Said são o Tabla (instrumento
de percussão, parecido com um grande tambor), o Mizmar (instrumento folclórico
de sopro) e o Rebaba (viola de uma ou duas cordas tocadas com um arco feito de
crina).
Os principais movimentos com o bastão são: os giros
verticais, horizontais e transversais sempre em harmonia com o trabalho dos
giros, deslocamentos e etc... Requer muita habilidade do bailarino. A precisão
e a destreza são fundamentais contrastando com alguns movimentos brutos.
Já na dança do ventre - ou seja em apresentações solo - a
bailarina representa uma mulher saidi diferente. Ela toma o bastão, instrumento
masculino, demonstrando habilidade, força e muita coragem. Como se, de maneira
brincalhona ela desafiasse as tradições dizendo "eu também posso". Os
passos típicos exigem muita ginga e “pulinhos” graciosos, o quadril é forte e
preciso. As mãos e braços apresentam desenhos simples muito diferentes da dança
clássica, parecendo sugerir uma dança mais rústica, porém igualmente graciosa. O
uso do bastão pelas mulheres pode possuir um efeito figurativo: ao desarmar o
homem, tomando o seu bastão, a mulher egípcia demonstra sua graça e habilidade,
pretendendo igualar-se ao companheiro. Uma das primeiras bailarinas a dançar
com o bastão foi Fifi Abdo.
Nesse território quase tudo é permitido, afinal temos
"licença poética" como bailarinas e interpretamos o que consideramos
mais interessante para nosso show. O número de saidi é um momento ímpar na
apresentação e oferece muitas possibilidades de interação do público. A música
é forte e parece acordar a percepção: a flauta mizmar lembra-nos imediatamente
de que se trata do Egito e a percussão cadenciada marca sua origem africana.
Coreógrafos respeitáveis como Mahmoud Reda definem saidi
como a dança que tem origem em três cidades do Alto Egito: Luxor, Assuan e
Qena. Entendemos que observando a dança popular dessa região criou-se uma dança
folclórica representando a personalidade e o cotidiano desses habitantes.
Consideram-se adequados para esta dança os ritmos
folclóricos Said puro ou said+baladi
seguido do maqsound, malfuf.
Atenção! O bastão não é o elemento peculiar que caracteriza
uma dança como saidi. Também encontramos no conjunto chamado de baladi egípcio
e libanês diferentes danças com bastão, de acordo com o que se quer representar
(região, costumes, povo). Portanto, observe mais elementos para desenvolver sua
apresentação enriquecendo assim seu estudo.
Bibliografia:
Samya Ju, Tahtib e Said,
disponível em: http://biancaegama.multiply.com/journal/item/7/Tahtib_e_Said,
acessado em 03de março de 2012
Anthar Lacerda, Apostila
de Folclore Árabe
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