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domingo, 4 de março de 2012

Tahtib e Said


O uso do bastão faz parte da dança "tahtib", e este instrumento, que hoje é usado como forma de adorno ou para demonstrar habilidades, símbolo de virilidade entres os homens, também serviu em tempos remotos como arma de defesa e ataque nas lutas e combates.
O estilo feminino conhecido pelo nome Saidi ("Dança do bastão") nasceu a partir de pesquisas de campo de Mahmoud Reda, sendo inspirado por um jogo marcial típico chamado Tahtib (essencialmente masculino), em que homens, com seus longos bastões, simulam uma luta dançada, demonstrando habilidade, e destreza, assim como habilidades surpreendentes num ataque mais do que harmônico. Nele algumas partes do corpo valem mais pontos do que outras e, quando um participante é atingido em seu ponto mais vulnerável, perde a batalha. Podem existir pequenas diferenças de estilo dependendo da cidade. Mahmoud Reda foi tão específico em seu estudo que um egípcio, sentado na platéia, poderia perceber, através destes detalhes tão peculiares, a que região de seu país pertencia o que estava sendo apresentado no palco!
Mais tarde desenvolveu-se uma performance de Saidi para grupos mistos, na qual homens e mulheres dividiam o palco. Diferentemente dos homens, quando as mulheres utilizavam os bastões seus movimentos eram mais suaves e delicados demonstrando claramente a diferença entre os dois. No contexto de folclore a dança saidi mostra grupos masculinos e femininos, inicialmente separados para depois formarem casais. Como uma espécie de “quadrilha” das nossas festas juninas.
O tahtib pode ser dançando com um ou dois bastões sendo eles de preferência retos e maciços. Os bastões originais são  pesados por serem feitos de cana egípcia, uma espécie de cana reino. Porém, atualmente temos encontrado bastões feitos em taquara ou bambu, mais leves para o manuseio
O figurino dos homens é composto por galabeya (”camisolão”), tae'ya (“chapeuzinho”) e lessa (lenço que prende a tae'ya). Para mulheres a galabeya tem longas mangas e um cinto marcando o quadril. O cabelo é coberto por um longo lenço negro. O vestido das mulheres é totalmente coberto e muito bem comportado, podendo ter atrás um bordado típico em formas de meias luas, que remete exatamente as suas origens, como sendo habitantes do campo. Esse formato, que lembra as luas, é comum em jóias oferecidas como dote de casamento nas regiões rurais. Então o motivo aparecendo nas roupas é uma clara alusão ao grupo a que esta manifestação artística remete.  
Os instrumentos típicos para o Said são o Tabla (instrumento de percussão, parecido com um grande tambor), o Mizmar (instrumento folclórico de sopro) e o Rebaba (viola de uma ou duas cordas tocadas com um arco feito de crina).
Os principais movimentos com o bastão são: os giros verticais, horizontais e transversais sempre em harmonia com o trabalho dos giros, deslocamentos e etc... Requer muita habilidade do bailarino. A precisão e a destreza são fundamentais contrastando com alguns movimentos brutos.
Já na dança do ventre - ou seja em apresentações solo - a bailarina representa uma mulher saidi diferente. Ela toma o bastão, instrumento masculino, demonstrando habilidade, força e muita coragem. Como se, de maneira brincalhona ela desafiasse as tradições dizendo "eu também posso". Os passos típicos exigem muita ginga e “pulinhos” graciosos, o quadril é forte e preciso. As mãos e braços apresentam desenhos simples muito diferentes da dança clássica, parecendo sugerir uma dança mais rústica, porém igualmente graciosa. O uso do bastão pelas mulheres pode possuir um efeito figurativo: ao desarmar o homem, tomando o seu bastão, a mulher egípcia demonstra sua graça e habilidade, pretendendo igualar-se ao companheiro. Uma das primeiras bailarinas a dançar com o bastão foi Fifi Abdo.
Nesse território quase tudo é permitido, afinal temos "licença poética" como bailarinas e interpretamos o que consideramos mais interessante para nosso show. O número de saidi é um momento ímpar na apresentação e oferece muitas possibilidades de interação do público. A música é forte e parece acordar a percepção: a flauta mizmar lembra-nos imediatamente de que se trata do Egito e a percussão cadenciada marca sua origem africana.
Coreógrafos respeitáveis como Mahmoud Reda definem saidi como a dança que tem origem em três cidades do Alto Egito: Luxor, Assuan e Qena. Entendemos que observando a dança popular dessa região criou-se uma dança folclórica representando a personalidade e o cotidiano desses habitantes.
Consideram-se adequados para esta dança os ritmos folclóricos Said  puro ou said+baladi seguido do maqsound, malfuf.
Atenção! O bastão não é o elemento peculiar que caracteriza uma dança como saidi. Também encontramos no conjunto chamado de baladi egípcio e libanês diferentes danças com bastão, de acordo com o que se quer representar (região, costumes, povo). Portanto, observe mais elementos para desenvolver sua apresentação enriquecendo assim seu estudo.

Bibliografia:
Samya Ju, Tahtib e Said, disponível em:  http://biancaegama.multiply.com/journal/item/7/Tahtib_e_Said, acessado em 03de março de 2012
Anthar Lacerda, Apostila de Folclore Árabe


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É preciso transformar a música em dança, num movimento de fora para dentro, mas principalmente, num movimento inverso, externalizar os sentimentos, transparecer a alma, transformar o corpo em música, em dança, em arte. A unidade se faz em todos os sentidos. O seu estilo de dança não será criado. Ele já existe. Basta você abrir espaço para que ele possa surgir. Dance com alma!

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