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terça-feira, 12 de março de 2013

Estrutura das aulas: Sentimento e expressão



Eis aqui um aspecto difícil de ser trabalhado. Sentimento e expressão dependem direitamente do autoconhecimento, de estabelecer contato consigo mesma e se permitir afetar pelas emoções da música e do momento da sua dança, perceber que tipos de energia você está transmitindo para seu público e o que recebe a partir delas.
A expressão não deve ser imposta. Ouvimos coisas do tipo, em tal momento da música devo sorrir, parecer feliz, no outro preciso fazer cara de sofrimento. E vemos uma exposição de “carões” sem sentido. A  expressão precisa ser sincera, ter relação com seus sentimentos íntimos ao ouvir e interpretar uma música. É de fato se expressar por meio de uma linguagem gestual.
Se o primeiro passo é conhecer a si mesma, a professora não pode fazer muito além de dar dicas, de mostrar alguns caminhos possíveis. Cabe a cada uma seguir os que considerar mais interessantes e apropriados a sua história de vida.
As diversas psicoterapias são um caminho. Yoga e meditação também proporcionam esse desenvolvimento. Mas principalmente poder olhar para si mesma, que é afinal o objetivo de todas essas práticas. Esse olhar precisa ser fraterno, com amor e respeito. É necessário entender que temos qualidades, defeitos, temos padrões de comportamento que repetimos, muitas vezes de forma inconsciente. Olhar para nós mesmas sem se deixar envolver, como espectadoras equânimes de nós mesmas. Observe os pontos que podem ser trabalhados, que podem ser melhorados, como cada coisa lhe afeta, o que lhe faz agir de determinada forma, o que causa bloqueios e o que causa prazer... Procure entender a si mesma, entender o que lhe faz agir, pensar ou sentir de determinada forma em determinadas situações. Perceba o que na sua vida faz bem e o que faz mal a você mesma e aos que estão ao seu redor. Faça este exercício diariamente e deixe passar tudo o que faz mal. Não se apegue a nada.
A partir do momento em que você pode, ao menos minimante, conhecer a si mesma e identificar o que a levar a seguir determinados padrões de comportamento, você pode melhorar a sua qualidade de vida e você pode, de fato, permitir aflorar emoções verdadeiras em sua dança.
Com este autoconhecimento aprendemos a perceber o nosso ego como algo necessário apenas para nos identificar enquanto seres “individuais”. Se nosso ego toma grandes proporções começamos a nos sentir ameaçadas em diversas situações, o que nos leva a uma necessidade de competição, como se ao me apresentar como melhor do que alguém eu reforçasse características que gostaria em mim mas que não são minhas. Acabo, portanto, tornando-me insegura, já que preciso demonstrar ser algo que não sou. Deixamos, então, de ter contato com nós mesmas para apenas querer mostrar ser alguma coisa, apresentando ao mundo diversas máscaras que cotidianamente vestimos. Para dançar é preciso se despir dessas máscaras, se entregar de corpo e alma! A partir da busca pelo autoconhecimento passamos a ter contato com nosso Eu superior, nossa essência divina, expandimos nossa alma, enxergando o mundo de forma mais feminina, sentindo amor verdadeiro e fraterno por tudo o que nos rodeia, aprendemos a admirar e enxergar tudo o que há de belo no mundo, restabelecemos nosso equilíbrio.
Quando esse trabalho é feito,  por cada uma, os trabalhos de expressão por meio da dança são facilitados. Então, quando chegando ao fim da aula, peço por exemplo, para que fechem os olhos e sintam a música, a respirem e a percebam penetrando cada célula, deixando seu corpo se transformar na música, estou somente facilitando essa entrega. Você precisa se conhecer para poder perceber como a música lhe afeta. Precisa da técnica para ter possibilidades de expressão. E precisa se entregar, sentir a música bater em seu peito! A professora aqui dá dicas, abre um espaço para que a expressão possa surgir. Mas o trabalho é individual e um tanto quanto íntimo, é desenvolvido aos poucos, de acordo com o tempo de cada uma. As inseguranças precisam ser deixadas de lado. Elas fazem parte de uma máscara que precisa mostrar ao mundo alguma coisa que não está em total sintonia com você, é parte do seu ego. Lembre-se sempre de que você não precisa provar nada a ninguém. A vida vale a pena somente se nos amarmos e nos respeitarmos, descobrindo a felicidade verdadeira de uma vida em harmonia.
Se entendermos a dança como forma de expressão, diria que este é o ponto mais importante para o seu desenvolvimento. Somente após essa entrega você compreenderá o que é dançar.

Ju Najlah


Imagens de Evgen Bavcar
Sobre o fotógrafo: "Evgen Bavcar é um esloveno cego desde os 12 anos devido a dois acidentes. Suas imagens, impressionantemente belas, em grande parte utilizam o contraste entre luz e escuridão. O artista também é doutor em estética pela Universidade Sorbonne.
Suas imagens, compostas por composições pretas e brancas, refletem como a sociedade está vivendo nos dias atuais, onde é mais preocupada com a imagem que passa do que realmente é, deixando de lado a humanização e partindo para o produto, o “ter” mais vale do que o “ser”.

Assim, incríveis são os resultados deste artista que tem tudo para não fazer nada e se acomodar, porém, explora através das lentes trabalhos que muitas pessoas que possuem inúmeras possibilidades e recursos não chegariam nem perto."

http://blogdapp.blogspot.com.br/2010/11/o-fotografo-cego-evgen-bavcar.html



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3 comentários:

  1. Bom dia! Cheguei por aqui em busca de fotos do Evgen Bavcar e me deparei com esse texto lindo. Durante todo o texto a vontade que me dava era de te abraçar! Era tudo que eu precisava ler. E estou com muita vontade de começar uma atividade, das várias opções, a dança do ventre tava gritando forte, depois desse texto agora grita desesperadamente! rsrs... O trabalho de olhar para mim eu já faço, é difícil aceitar meus processos não lineares, mas vamos seguindo rsrs... preciso mesmo é de algo que me dê ferramentas para colocar para fora o que já pulsa aqui dentro. Gratidão!

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    1. Rô, que alegria saber que trouxe, com esse texto, novas possibilidades de movimentação e de desenvolvimento de um potencial! Super indico a dança do ventre, porque simplesmente a amo!
      E lembre que nada no universo, tido como natural, é linear. O que há são curvas, círculos, espirais... A linearidade é uma construção humana que muitas vezes nos enclausura. Procure ver seus processos não lineares como seu potencial. Eles podem te levar a criações infinitas e seus textos já evidenciam um pouco isso. Deixa essa vida pulsar, se expandir e preencher e abrir espaços! Que seja uma boa caminhada!!!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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É preciso transformar a música em dança, num movimento de fora para dentro, mas principalmente, num movimento inverso, externalizar os sentimentos, transparecer a alma, transformar o corpo em música, em dança, em arte. A unidade se faz em todos os sentidos. O seu estilo de dança não será criado. Ele já existe. Basta você abrir espaço para que ele possa surgir. Dance com alma!

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