Eis aqui outro ponto bastante controverso. Alunas que não
tem intensão de participar de apresentações acreditam ser este trabalho
coreográfico irrelevante e sem importância. Algumas chegam a considerá-lo uma
perda de tempo. Quase como se não estivessem se exercitando ao estudar uma
música mais pausadamente.
Aqui gostaria de abrir um parêntese para, brevemente,
abordar essa questão da atividade física. Construímos uma cultura na qual
acreditamos que a atividade física eficaz é aquela que faz com que eu me sinta
exausta, ofegante e suando muito. Associamos o emagrecimento ao fato de
suarmos. Porém, quando suamos somente perdemos líquido, em uma resposta
termorreguladora de nosso organismo. E quando suamos muito e ficamos ofegantes,
isso é sinal de que nosso organismos se encontra em morte celular. Precisamo
reavaliar o que consideramos uma atividade física saudável. Não é necessário
estarmos em morte celular para queimar calorias e trabalhar nosso corpo.
Voltemos então a sequência coreográfica.
Elaborá-la talvez seja o que dá mais trabalho ao professor.
Porque não basta criar uma dança. É preciso estudar a música, estudar a turma,
criando alguma coisa que se adeque a realidade dela, para depois partirmos para
o processo criativo em si. Após criada, o trabalho continua. É necessário
repassá-la muitas vezes antes de começar a passar para a turma e depois estar
atenta a forma como cada aluna está apreendendo e reproduzindo, com
flexibilidade suficiente para produzir modificações que se façam necessárias,
nesse contato de cada corpo com aquilo que foi, inicialmente, idealizado.
Vale ter em mente que todo esse trabalho não visa somente
uma exposição em apresentações. Muita coisa é trabalhada através do
desenvolvimento coreográfico. Vamos conhecer algumas delas.
Primeiro aprendemos a ouvir a música. Nuances dela,
que poderiam não ser percebidas, tornam-se agora objeto do nosso foco. Uma
marcação com nosso corpo pode ou não evidenciar algum elemento musical,
treinando nosso ouvidos a apreciar composições tão ricas. O ensino começa a ser
conduzido no sentido de encaixar os passos aprendidos, através da técnica, na
música. Aos poucos é possível perceber formas diversas para sua leitura
musical. Através do trabalho coreográfico podemos reconhecer batidas e melodias
diferentes, transformando-as em linguagem gestual. Aprendemos que dentro de uma
música há frases e elas precisam ser ouvidas e respeitadas. Aos pouco vamos
aprendendo a reconhecer a estrutura e composição de cada música para podermos
transformá-la em dança.
Outro ponto trabalhado é a sequência em si. Possibilidades
de composição de passos, emendas. Quais movimentos posso utilizar na leitura de
um instrumento. Inicialmente aprendemos a utilizar movimentos ondulatórios para
músicas ou trechos lentos, básico egípcio em ritmos de 4 tempos, shimmie e
marcações em solos de percussão... Com o tempo e através do trabalho do estudo
de sequências percebemos possibilidades infinitas. Utilizamos também ondulações
e deslocamentos em solos de percussão e marcações em ritmos lentos, isso só
para dar um exemplo. Percebemos que há um corpo inteiro para dançar. Mãos, pés,
pernas, quadril, peito, cabeça, abdômen. Aprendemos a inserir cada parte do
corpo em nossa dança. Ficamos presentes e inteiras, com total consciência de
nós mesmas! Um pouco mais adiante aprendemos que uma leitura musical pode ser
muito mais precisa se emendamos os movimentos de forma mais elaborada, com
poucas repetições.
Inicialmente as coreografias são algo bastante trabalhoso,
que exige estudo, concentração e consciência. Mas é a partir delas que vocês
ganham elementos para dançar! Primeiro as próprias coreografias e depois de
algum tempo, com todos os elementos trabalhados, vocês podem criar danças suas.
Podem criar e interpretar a seu modo, experimentando todo o sentimento de
liberdade que a dança nos oferece!
Ju Najlah
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